A Lei de Cotas representa um marco na inclusão nos ambientes de trabalho, no entanto ainda há resistência, desconhecimento e desculpas que não se sustentam.
Há 33 anos, a Lei de Cotas vem iluminando o caminho em direção à inclusão nos ambientes de trabalho. Com mais de três décadas de história, não dá mais para aceitar desculpas que tentam contorná-la. Neste texto, vamos detonar 7 desculpas frequentemente usadas e explicar por que já passou da hora de derrubá-las.
1 – “Aqui defendemos a meritocracia. Contratamos só the best”
Reconhecer esforço e desempenho é importante, mas esse discurso só funciona para promover a exclusão, além de ser extremamente improdutivo, só perpetua desigualdades históricas. Grupos minorizados enfrentam mais barreiras e precisam se esforçar mais, porém esse esforço não é reconhecido e muitas vezes ainda é entendido como “não fez mais que a obrigação”. Saia desse discurso preconceituoso e excludente. É possível avaliar e selecionar candidatos com base em competências e, ao mesmo tempo, garantir representatividade.
2 – “Não encontramos candidatos qualificados”
Esta desculpa, muitas vezes, reflete práticas de recrutamento limitadas ou falta de prioridade na contratação de pessoas diversas. É preciso ouvir as ideias das pessoas do RH, do Comitê de Diversidade ou de qualquer área que possa dar sugestões para atrair talentos com o perfil da vaga. Se os números de diversidade não mudam, é porque falta prioridade e metas claras de inclusão.
3 – “A Lei de Cotas é uma imposição injusta”
A legislação visa corrigir desigualdades, em outras palavras, corrigir injustiças. Sem entender a importância dela, fica difícil construir ambientes justos. Quando a sociedade naturalmente não consegue quebrar paradigmas e preconceitos, a política de cotas surge para reparar injustiças. Logo, ela precisa existir enquanto houver esse desequilíbrio.
4 – “Já temos diversidade suficiente”
Se já há diversidade, não há desculpas para não cumprir a Lei. Inclusão vai além da representação superficial. É promover um ambiente onde todas as vozes são ouvidas e valorizadas.Não há mais espaço para o discurso de “nós temos a fulaninha (às vezes citada com um apelido capacitista) que trabalha conosco há anos”, na mesma função, praticamente um patrimônio da empresa que se julga inclusiva, mas não reconhece e valoriza a diversidade
5 – “A empresa não pode arcar com as adaptações necessárias”
Se adaptações são necessárias, é porque não foram feitas antes. A Lei de Cotas caiu do céu para que essa transformação acontecesse gradativamente. A empresa nunca foi reformada em 33 anos? Novas formas de trabalho não foram criadas? Novos equipamentos não foram adquiridos? Adaptações não são tão complicadas e, muitas vezes, não envolvem custo.
6 – “A diversidade não impacta nos resultados da empresa”
Os números mostram o contrário. Felizmente, existem estudos consistentemente que mostram que empresas diversas superam concorrentes em inovação e desempenho. Por outro lado, também não lembramos de pessoas solicitando números de forma tão insistente para contratar os padrões convencionais ao longo dos anos. O nível de exigência por resultados e a capacidade crítica também são desiguais e permeados por vieses capacitistas, machistas, racistas e LGBTI+fóbicos, especialmente quando se trata de diversidade.
7 – “As cotas são paternalistas”
Cotas corrigem desequilíbrios históricos, não perpetuam paternalismo. Criam oportunidades que não seriam oferecidas organicamente. O trabalho afeta a sua vida social, financeira, sua saúde, sua autoestima e o senso de participar de uma sociedade para que seja melhor do que antes. Pensa no tamanho da importância que ele tem para a sua vida. Isso é desenvolvimento e independência, não paternalismo.
Conclusão
Superar essas desculpas é crucial para promover a verdadeira inclusão. A Lei de Cotas é um passo importante, mas é necessário o comprometimento contínuo de todos os setores da sociedade para uma mudança significativa e duradoura. Este texto busca esclarecer esses pontos e ajudar a compreender melhor o papel crucial da Lei.
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