Pesquisa do IBGE estima que 12,4 milhões de pessoas com deficiência estão fora do mercado de trabalho

Pesquisa do IBGE estima que 12,4 milhões de pessoas com deficiência estão fora do mercado de trabalho

Segundo a Pnad Contínua 2022, das 17,5 milhões de pessoas com deficiência, apenas 5,1 milhões fazem parte do mercado de trabalho no país, sendo que 50% estão na informalidade.

O IBGE divulgou recentemente os dados do módulo Pessoa com Deficiência na edição de 2022 da Pnad Contínua. A pesquisa é realizada por amostra de domicílios para acompanhar a evolução do mercado de trabalho e outras informações sobre o desenvolvimento socioeconômico do país. A Pnad Contínua é realizada em caráter definitivo desde 2012 e a partir de agora também irá reunir e disponibilizar dados sobre pessoas com deficiência.

Vamos aos dados:

Pessoas com deficiência que fazem parte da força de trabalho

A pesquisa estima que a população com deficiência com 14 anos ou mais no Brasil é de 17,5 milhões, o que corresponde a 10% da população dessa faixa etária. O levantamento apontou que 5,1 milhões fazem parte da força de trabalho, número que representa apenas 29% do total de pessoas com deficiência em idade de trabalho. Essa taxa de participação é significativamente menor se comparada com a de pessoas sem deficiência, que em 2022 foi de 66,4%.

A pesquisa considerou pessoas em trabalho remunerado ou não, e as que estavam temporariamente afastadas. Foram consideradas também aquelas que tomaram alguma providência efetiva para conseguir ocupação no mês e estavam disponíveis. E, também, as que aguardavam iniciar o trabalho, em período inferior há 4 meses. O grupo de pessoas com deficiência que se enquadra nessa situação, chamada de “desocupada”, era de 8,7% em relação ao total da força de trabalho de pessoas com deficiência.

Taxa de ocupação por tipo de deficiência

Com relação ao tipo de deficiência, a Pnad apontou que o maior percentual no Brasil é de pessoas com dificuldade de enxergar, mesmo usando óculos ou lentes de contato (30,9%), seguido de dificuldade de escutar, mesmo com o uso de aparelho auditivo (24,4%) e de pessoas com dificuldade de aprender, lembrar-se das coisas ou se concentrar (23,7%). Na sequência aparecem as pessoas com dificuldade para andar ou subir degraus (14,3%) e para levantar uma garrafa de 2 litros (13,8%) e pegar objetos (12,6%). Ainda sobre os domínios funcionais das pessoas ocupadas, 10,1% relataram dificuldade de comunicação e 3,8% dificuldade nos cuidados pessoais.

Taxa de ocupação por nível de instrução

Aproximadamente 40% dos 5,1 milhões de pessoas com deficiência no força de trabalho não possuem instrução ou têm o ensino fundamental incompleto, 30% têm o ensino médio completo ou superior incompleto, 15% têm o ensino médio incompleto e 13% têm superior completo. 

A pesquisa também apontou que 530 mil pessoas com deficiência com ensino superior completo estão fora da força de trabalho. Com superior incompleto são 1,7 milhões e com médio incompleto são 1,3 milhões. Além de 8,7 milhões sem instrução ou com o fundamental incompleto.

Distribuição por setor de trabalho

Por posição na ocupação, o maior percentual de pessoas ocupadas com deficiência foi no setor privado (35,4%) e pessoas que trabalham por conta própria (36,5%). De um total de 4,6 milhões de pessoas ocupadas na semana da pesquisa, temos o seguinte: 

  • 1 milhão no setor privado com carteira assinada
  • 581 mil no setor privado sem carteira assinada
  • 1,7 milhão trabalha por conta própria*
  • 534 mil no setor público
  • 469 mil trabalhadores/as domésticos/as
  • 174 mil empregadoras**

* não tem pessoas empregadas

** tem pelo menos uma pessoa empregada

Taxa de informalidade

Cerca de 55% das pessoas com deficiência que trabalham estão na informalidade, enquanto para as pessoas ocupadas sem deficiência esse percentual foi de 38,7%.

A situação de informalidade se refere às pessoas empregadas no setor privado sem carteira de trabalho assinada, trabalhadores/as domésticos/as sem carteira assinada, pessoa empregadora ou que trabalhe por conta própria sem CNPJ, ou pessoas que trabalharam sem remuneração ajudando a atividade econômica de pessoa do domicílio ou parente.

Rendimento médio

As pessoas com deficiência recebem 31% a menos do que as sem deficiência. Segundo a pesquisa, o rendimento médio recebido pelas pessoas com deficiência foi de R$1.860,00 enquanto o das pessoas sem deficiência era de R$ 2.690,00. Essa diferença fica ainda maior se considerarmos marcadores sociais como gênero, por exemplo. As mulheres com deficiência têm rendimento médio que representa praticamente a metade do rendimento recebido por homens sem deficiência.

O que os números estão indicando para nós

Os números sustentam a relevância das políticas de diversidade e inclusão, e indicam um enorme horizonte potencial para as empresas. O potencial de contratação de talentos pelas empresas que levantam a bandeira da diversidade é enorme. São 12,4 milhões de pessoas fora do mercado atualmente.

A pesquisa reforça a urgência da condução do tema em sintonia com a estratégia da empresa e investir adequadamente para garantir a qualidade no processo inclusivo. A importância da Lei de Cotas também é amplificada, como uma política de ação afirmativa necessária para inclusão social das pessoas com deficiência no país. 

Segundo dados da RAIS o número de pessoas com deficiência no mercado formal de trabalho é de aproximadamente 495 mil. No entanto, o potencial de inclusão no mercado por meio da política de cotas é mais que o dobro disso. Se considerarmos somente os 12,4 milhões fora do mercado, por exemplo, seria possível cumprir a Lei de Cotas 12 vezes. 

Por fim, é fundamental acompanhar a evolução dos dados durante os anos. E esse, certamente, é um grande ganho com a incorporação dos dados sobre deficiência na Pnad Contínua. Mas é importante lembrar, também, que os dados são recentes. Eles precisam ser assimilados e analisados com cautela para que possamos avançar na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

Se quiser conhecer um pouco mais sobre a Pnad Contínua, veja o texto da equipe causadora sobre as diferenças de metodologia da pesquisa atual com o Censo 2010.