O que é capacitismo? E porque ele pode ser um entrave à inclusão no trabalho?

O que é capacitismo? E porque ele pode ser um entrave à inclusão no trabalho?

O termo capacitismo, traduzido do inglês “ableism”, é uma forma de discriminação que questiona a capacidade de uma pessoa, pelo fato de ela ter algum tipo de deficiência.

Ele acontece quando se pressupõe que essas pessoas são menos capazes que as pessoas sem deficiência. Está presente no trabalho, na escola, dentro de casa, nas manchetes de notícias, na forma de se expressar, nas relações entre as pessoas e nas redes sociais. Ou seja, pode se manifestar praticamente em todos os lugares e ao longo de toda a vida de uma pessoa com deficiência.

Por causa disso, temos uma notícia ruim e uma boa para você que está lendo este artigo. A ruim é que você, provavelmente, é ou já foi capacitista. A boa é que você pode mudar isso. Como? Continue lendo esse texto.

Primeiro é importante entender como o capacitismo se evidencia. Há duas formas mais usuais. Uma é o mito do coitadinho e a outra é a do super herói (ou super heroína). Na primeira, a mais comum, é quando acreditamos que uma pessoa com deficiência é inferior a uma pessoa sem deficiência e como consequência sentimos pena, acreditamos que ela gostaria de ser “curada” e automaticamente ajudamos essa pessoa, considerando que ela será menos produtiva, em relação às outras pessoas.

Isso no ambiente de trabalho se reflete em um profissional que não é avaliado adequadamente, que não tem as mesmas oportunidades de desenvolvimento e fica aquém de um plano de carreira, por exemplo.

Mas a pessoa com atitudes capacitistas também pode entortar a régua para o outro lado e tratar alguém com deficiência como um super herói ou super heroína apenas porque essa pessoa realiza atividades, aparentemente comuns para a maioria das pessoas, como: dirigir, casar, ter filhos, usar transporte público, praticar esportes e outros. É quando as pessoas passam a ser idolatradas e consideradas exemplos de esforço e realização.

Isso também não é algo positivo, porque não passa de um preconceito disfarçado de admiração. No fundo, essa pessoa continua percebendo a pessoa com deficiência como alguém em uma condição inferior e, por isso, a acha admirável por fazer coisas comuns.

Agora vamos analisar o mercado de trabalho. Imagine que você vive em um país com aproximadamente 45 milhões de pessoas com deficiência e apenas 523 mil estão no mercado formal de trabalho. Esses são os números do Brasil, considerando o Censo do IBGE1 de 2010 e a RAIS 20192. O número de pessoas com deficiência no mercado representa aproximadamente 1% do total de vagas de emprego formal.

Se considerarmos os cargos de liderança esse percentual é ainda menor. Segundo pesquisa do Instituto Ethos3 com as 500 maiores empresas do Brasil, as pessoas com deficiência representam 0,64% do quadro executivo, 0,41% dos cargos de gerência e 0,89% dos cargos de supervisão.

Esse cenário é uma prova de que vivemos em uma sociedade altamente capacitista, que acaba por limitar as oportunidades e fechar as portas para essa grande parcela da população.

Outros exemplos de atitudes capacitistas no ambiente de trabalho são:

  • Ajudar alguém sem seu consentimento
  • Não avaliar profissionais com deficiência
  • Usar profissionais com deficiência como exemplo, tendo a deficiência como justificativa para seu desempenho e não suas habilidades e competências
  • Não ter profissionais com deficiência em cargos de liderança
  • Determinar que pessoas com tipos de deficiência específicos não podem ser consideradas para um cargo e eliminá-las do processo seletivo

A verdade é que, assim como todas as demais formas de preconceito, o capacitismo é um tema urgente e necessário, que precisa ser amplamente disseminado para que possamos enfrentar comportamentos inadequados e inapropriados, que por décadas se perpetuam.

O enfrentamento do racismo, da LGBTI+fobia, do sexismo, do machismo, da intolerância religiosa, da gordofobia, do capacitismo e todas as demais formas de discriminação é fundamental para a construção de uma sociedade melhor, mais justa e sustentável para todas as pessoas.

* Artigo sobre capacitismo escrito por Aline Morais e Rafael Públio, consultora e consultor de inclusão e diversidade da equipe causadora, originalmente publicado na série Análises da Câmara Espanhola.


1BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo IBGE 2010. Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/>. Acesso em: jul. 2021

2DIEESE. Inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. Nota técnica nº 246. 20 de novembro de 2020. Disponível em: <https://www.dieese.org.br/notatecnica/2020/notaTec246InclusaoDeficiencia.pdf>. Acesso em: jul. 2021.

3Instituto Ethos. Perfil social, racial e de gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas ações afirmativas / Instituto Ethos e Banco Interamericano de Desenvolvimento. Disponível em: <https://www.ethos.org.br/cedoc/perfil-social-racial-e-de-genero-das-500-maiores-empresas-do-brasil-e-suas-acoes-afirmativas/>. Acesso em: jul. 2021.